Alguém já disse...

Os do mal começam a vencer quando os do bem cruzam os braços!

segunda-feira, 1 de abril de 2024

Capítulo 5 – Dia 04 (09/02/24) – Sexta-feira

         O quarto dia desta grande viagem começa com a expectativa de, agora sim, começarmos a subir a pré-Cordilheira dos Andes, deixando para trás a parte plana da Argentina, que só seria reencontrada na volta, quando atravessaríamos el Pampa del Infierno.

 

                * Um museu, muuuuitas histórias

                Antes de sairmos de Termas del Rio Hondo, não poderíamos deixar de visitar o Autódromo de Termas do Rio Hondo, onde duas atrações principais se destacariam: o autódromo propriamente dito, que com um pouco de sorte poderíamos ver carros ou motos em treino e o museu do automobilismo. Nesse autódromo ocorreu, até ano passado, a única prova da Moto GP – a Fórmula 1 das motocicletas, da América do Sul (este ano por questões econômicas a etapa da Argentina foi cancelada). Porém, nem o primeiro, muito pouco do segundo...               

Saída do Hotel em Termas do Rio Hondo

Como dito na postagem anterior, na quinta-feira à noite um grande temporal havia atingido a cidade de Termas do Rio Hondo. Em consequência, ainda na manhã de sexta-feira muitos locais da cidade estavam sem energia elétrica e o museu do automobilismo era um deles.

Deixaram-nos entrar, fotografar, passear, ver muitos e icônicos carros de competição, muitas e icônicas motocicletas históricas e de competição, homenagens a pilotos famosos que fizeram história, mas como a iluminação era apenas a natural, fotos e imagens perdiam em qualidade. Pelo menos não precisamos pagar ingresso. Outra coisa: os banheiros não podiam ser usados, e as bebidas do bar não estavam geladas...

Museu do Autódromo TRH

                No autódromo propriamente dito, isto é, na pista de corrida, não pudemos entrar, pois estava fechada. Então foi aquilo: visitamos, mas não vimos, kkk.

                Bora para a estrada...

 

                * A beleza exuberante da natureza começa a se fazer presente...

                Feita a visita no museu, partimos para o próximo destino, a cidade de Cafayate, um município da província argentina de Salta, que fica a mais de 1600 m de altitude, lembrando que estávamos praticamente no nível do mar. É uma cidade turística que se destaca por estar na base da Cordilheira dos Andes e ter sua economia baseada principalmente na vitivinicultura – produção de vinhos.

                Logo na saída de Termas do Rio Hondo começamos a trafegar por autoestradas e rodovias argentinas, a famosas rutas nacionales ou RN. Muito belas, bem pavimentadas e sinalizadas. Então, em determinado momento pegamos a RN 307... A palavra que pode expressar o que começamos a ver é espetacular...

                Gentes, fizemos uma ascensão por morros e montanhas, em uma estrada (pavimentada) que serpenteava em ziguezague por muitos e muitos quilômetros dentro de uma mata que, em determinados momentos, parecia intocada (mas não era, por que era cortada por uma rodovia, claro, kkkk). É o que eu chamo de natureza de beleza absoluta: a estradinha no meio da mata, um riozinho pedregoso acompanhando a estrada, os carros trafegando em primeira e segunda marcha, em ziguezague, quase sem pontos de ultrapassagem... Sensacional e emocionante.

               

                * No meio do caminho tinha uma pedra, tinha uma pedra no meio do caminho...

                Antes de chegarmos a Cafayate, precisamos passar por outra belíssima cidade argentina, Tafi del Vale, na província de Tucumán, esta há mais de 2000 m de altitude (não era uma pedra, mas uma montanha no caminho, ahahahahah...). Então a subida espetacular que enfrentamos levou-nos a um vale chamado El Molar, de beleza fenomenal, e em seguida à cidade de Tafi del Vale, cidade pequena com população aproximada de 15000 pessoas. Valeria dois dias ali...

Província de Tucuman - belezas indescritíveis

                Como íamos para Cafayate, passamos por Tafi del Vale e continuamos subindo. Outra pedra no caminho, ops, montanha no caminho, kkk. Tudo em ziguezague, tudo muito, mas muito lindo. Confesso que foram as paisagens mais belas que eu vi na minha vida...

                Essa nova ascensão levou nos até um paradouro denominado El Infiernito, localizado há 3140 m acima do nível do mar...

 

                * El Infiernito geladito

                Parada obrigatória para quem vai em direção à Cafayate pela RN 307, é um ponto turístico bastante concorrido, pois é, naquela região, o ponto mais alto da rodovia e a primeira parada acima dos 3000m.


                Em Termas do Rio Hondo estávamos com a temperatura de 28°C; em Tafi del Vale, chegamos com 15°; no Infiernito estava 7°... E nós com a mesma roupa, pois a ascensão gradual não nos apontava a necessidade de pormos roupas mais quentes. O tempo fechado e a forte ventania colaboravam para termos uma sensação térmica beeem inferior...

                Paramos e, antes de qualquer coisa, nos obrigamos a pôr luvas pesadas, cachecóis e balaclavas (não sabíamos, mas em menos de cinco quilômetros teríamos que tirar tudo, ahahahahahah).

        


        Outro destaque: foi nosso primeiro contato com o animal mais clássico e tradicional da região andina: a lhama. Havia vários animais no paradouro para tirar fotos com os turistas. Mesmo com o frio, a ventania que dificultava até a conversa em ambiente aberto, estávamos lá, eu e o Chico, igual dois turistas meio bobos tirando fotos com os bichinhos... Dizem que carne de lhama é muito bom...

                Bora pra estrada que o frio está pegando...

 

                * Mundos diferentes em questão de metros ou minutos...

                Mal saímos do Infiernito, poucos quilômetros à diante, começamos a descer e tivemos três surpresas: primeira, continuamos descendo em meio a muitas, mas muitas montanhas (elas nos acompanhariam agora, até o antepenúltimo dia de nossa viagem); segundo: a temperatura subiu vertiginosamente, batendo nos 30° (em questão de minutos saímos de 7 para 30, sem contar a sensação térmica...); e terceiro, a paisagem mudou drasticamente: saímos de uma região de abundante vegetação, para uma região de semiárido, quase desértica... Ao mesmo tempo um choque e muita beleza. 

O deserto em altitude passa a ser nossa companhia

                Estávamos diante de outra forma de beleza absoluta do meio ambiente: a beleza do deserto nas montanhas. Ou seria beleza das montanhas no deserto?

                E assim descemos quase 1500 metros...

 

                * A Mãe Terra nos recebe...

                Após descer em direção à Cafayate, deixando os 3000 m de altitude, passamos por uma pequena cidade chamada Amaicha del Valle, ainda na província de Tucumán. Nesta cidade, ponto de abastecimento, não pudemos deixar de visitar o museu Pachamama.

             

Parceiro Chico com a Pachamama

   A Pachamama que significa Mãe Terra em quechua (povo indígena natural daquela região andina) é a divindade que representa a natureza no seu conjunto. Protege os humanos e os permite viver graças a tudo o que contribui. Caberia uma coluna apenas sobre esse museu. Mais uma vez as palavras são superlativas: magnífico, estupendo, espetacular...

 

                * Enfim, nosso destino...

                Assim, depois de um longo e indescritível 4° dia de viagem chegamos em Cafayate, nosso destino, nossa primeira (e que seria única) cidade de descanso, com dois pernoites. Fomos direto ao hotel escolhido, bem no centro da cidade, Hotel Los Toneles. Sobre esta estada, conto no próximo capítulo.

                Ah, para o amigo leitor ter ideia do que enfrentamos neste dia, viajamos a partir de nossa saída, pela manhã, pouco mais de 330 km em quase dez horas de estrada. Centenas de fotos depois e belezas indescritíveis, chagamos ao destino de pernoite. Conclusão: se fôssemos parar em todos os lugares bonitos, mas só nos muito bonitos, para tirar fotos, levaríamos três dias para fazer esses mesmos 300 km...
Deserto nas Montanhas



Carro do Speed Racer - Match 5
Vista parcial do museu TRH



Andar superior do museu
Motos clássicas



sábado, 16 de março de 2024

Capítulo 3 - Dia 02 - 07/02/2024 - Quarta-feira

                  Dando continuidade à aventura de dois veteranos motociclistas, saímos da cidade de Posadas, como eu disse, uma bela cidade, e partimos em direção à Corrientes, agora sim, mais no interiorzão da Argentina, porém ainda às margens do enorme e belo rio Paraná.

Bora que está perto...



                Sobre o rio Paraná é interessante destacar que em alguns pontos ele é tão largo que mal-e-mal se enxerga o outro lado.

                Na cidade de Posadas, que estivemos no dia anterior, havia uma ponte, Ponte Internacional, que levava para o outro lado do Rio Paraná, saindo diretamente no país vizinho do Paraguai.

 

                * Problemas só existem quando têm que acontecer

Logo na saída de Posadas minha Bebê (nome de batismo de minha motocicleta, kkk), começou a sinalizar um antigo defeito eletrônico que eu julgava superado...

               

Bebê pronta para a viagem

O pezinho de descanso da moto, tecnicamente conhecido como “sensor indutivo”, há alguns meses atrás, após eu viajar na chuva para um encontro de motociclistas em Cerro Branco - RS, andou apresentando um problema. Passados alguns dias daquela viagem, nunca mais acusou tal situação, mesmo eu tendo viajado na chuva em outras oportunidades. Daí que julguei ter sido um problema apenas pontual; e nunca mais me preocupei com ele, que nem era detectado nas revisões eletrônicas que eu fazia na moto.

Esse sensor evita que a moto ande com o pezinho de descanso baixado, sendo um elemento de segurança. O problema é que quando ele acusa o problema e aparece a mensagem “Side Stand” – descanso lateral, a gente engata uma marcha na moto e imediatamente o motor desliga. Com isso, mesmo com o pezinho “recolhido”, não se consegue fazer a motocicleta andar.

                Pois bem, estávamos no dirigindo à cidade de Corrientes pela RN – Ruta Nacional 12, no meio de uma das (muitas) retas daquele trecho da rodovia Argentina, há mais de cem quilômetros de lugar nenhum, e a Bebê começou a acusar o problema, obviamente que causado pela chuvarada do dia anterior.

A "solução" do problema, kkk

                Durante mais de hora viajei com o painel piscando a mensagem “side stand”. Num determinado momento, quando um calor absurdo de um sol impiedoso, beirando os quarenta graus célsius, nos obrigou a parar para descansar, se hidratar e pormos uma roupa mais leve, precisei desligar a moto. Após o descanso, não consegui mais fazer a moto andar, pois com o problema, engatava a primeira marcha e o motor desligava. Tentei fazer a moto andar uma dezena de vezes e nada! O jeito foi começar a fuçar...

 

                * O espírito da estrada

                Enquanto estávamos parados fuçando na Bebê, já sem camisa e quase sem água, pois o calor era grande, escuta-se um “estrondo” na rodovia e imediatamente encosta, bem próximo a nós, um motor home - trailer que acabara de estourar um pneu.

                Os ocupantes do motor home, instalado na plataforma de um Ford 56 a gasolina, era um casal argentino que estava voltando de uma viagem de nove meses pela costa brasileira, e chegariam em sua cidade, Buenos Aires, dentro de mais quinze dias.

                De pronto o motorista, antes mesmo de ver e resolver o seu problema, o pneu estourado, se ofereceu para nos ajudar, mesmo não conhecendo muito de moto, como ele mesmo disse. Sua esposa, muito solícita, ofereceu-nos refrigerante e água geladas.

                Mais de hora depois, nós ainda sem conseguir fazer a Bebê andar, os argentinos já com o pneu trocado e banho tomado (eles tinham chuveiro no motor home, além de uma pequena borracharia e oficina mecânica, com gerador de energia, caixa d’água, ar-condicionado,  geladeira com freezer, etc), nos despedimos, após efusivas trocas de votos de boa sorte e bons augúrios. Àquelas alturas já pensávamos em chamar um guincho (tarefa que caberia ao Chico procurar – ou não) para levar a moto até Corrientes, distante uns cento e setenta quilômetros adiante.

Mais uma meia hora depois e, por uma dessas razões que não se sabe explicar muito bem, ou por que àquelas alturas o motor da moto tenha esfriado um pouco, em uma tentativa de engatar uma marcha na moto ela “aceitou” a primeira... Com isso, mesmo ainda apresentando a mensagem de problema, estávamos temporariamente em condições de rodar...

Com enorme e emocionante alegria, pois já estávamos há quase duas horas ali na estrada, parados, sem água, derretendo, sem saber exatamente o que fazer (já tínhamos consultado soluções e alternativas na internet, mas todas indicavam a necessidade de dispositivos eletrônicos, o que não tínhamos na hora – agora carrego cinco deles com as ferramentas da moto, ahahahah) nos vestimos e bora motoquear. Nunca me vesti tão rápido na vida, ahahahahah. Como saí com pressa, feito um louco, pois tinha medo de a moto apagar ao fazer alguma marcha, saí na frente do Chico, alucinado... Em breve ele me alcançaria e passaríamos a rodar em nossa velocidade regular de cruzeiro que era 90-100 km/h. 

Dono de Harley tem que ter graxa nas unhas, ahahahahahah

                Chegamos em Corrientes por volta das 15:30 e um dilúvio inundara aquela parte da cidade, de novo. Mas agora eu sabia que não poderia desligar a moto...

 

                * Corrientes

                Chegamos em Corrrientes encharcados, desidratados, com fome, cansados física e emocionalmente, mas fomos buscar uma mecânica para moto. Após rodar feito uns tontos perdidos, sem poder desligar a moto, fazendo umas pataquadas como andar na contramão e sobre a calçada, kkk, encontramos a única que nos indicaram, mas que abriria apenas após às dezessete horas, pois naquele momento estava no horário da siesta (hábito dos hermanos de descansar – sestiar após o almoço). Resolvemos ir direto para o hotel que escolhemos nesta cidade.

           

Corrientes

     A cidade de Corrientes é grande, tendo em torno de trezentos e vinte mil habitantes, e antiga, pois foi fundada no final do século XVI. O hotel que escolhemos ficava no centro, mas dentro de uma praça, então, como não sabíamos como chegar, de moto, até a portaria do hotel (que barbarbaridade), e como eu não poderia desligar a moto, fomos para o plano B, onde ficamos: hotel Identidade era o nome, também bem no centro, quase ao lado da referida praça.

 

                * Rotina

                Antes mesmo do check in no hotel fomos comprar água, pois a desidratação é um dos riscos que se corre ao viajarmos de moto no verão.

Instalados no hotel, banho tomado, roupas e acessórios pendurados para secar (pelo segundo dia seguido pegávamos chuva na estrada) e vamos para dois compromissos: fazer o câmbio, de novo, e procurar um capacitor eletrônico que era indicado na internet para contornar o problema de minha motocicleta.

Hotel Identidade

À noite, como de costume, fomos a uma parrijada ou parrilhada, afinal, estamos na Argentina, e suas carnes dispensam comentários. Sem falar que o câmbio favorecia-nos na hora do brique, ahahahahahah.

Após o jantar chamamos um táxi e fizemos um tour pela bela avenida Costaneira da cidade. Quase uma hora de passeio, com um amigo nosso já meio cochilando ao lado do motorista, e voltamos para o hotel. Preço da corrida do táxi: vinte pilas...

 

Justa e merecida janta em Corrientes

* Alguns destaques pontuais desta etapa

Não achei a peça exata para consertar minha moto. Porém, o atendente da loja de eletrônicos, muito solícito, deixou até eu usar o computador da loja para procurar peças semelhantes pela internet. Como não conseguimos, ele me forneceu, a preço de custo, cinco capacitores que poderiam, ou não, substituir o que eu precisava e me desejou muita sorte, kkk. Fiquei muito grato pela atenção recebida.

Comprando a peça salvadora...

Os preços na Argentina são bastante em conta se comparados com os do Brasil. Refeições, souvenires, bebidas, roupas, tudo muito em conta. Mas tem-se que ter cuidado com o câmbio, pois existem os espertinhos que querem ganhar dinheiro fácil à custa de desavisados: compramos pesos a 220 por real, mas teve quem nos ofereceu a 190, 180 e até 170... Pensaram que eu não era bobo...

 

* E se foi o segundo dia

À noite, após um dia bastante intenso, mesmo apesar do pecado da gula no jantar, o sono veio fácil e foi reparador. Pela manhã já estávamos ávidos por ver se alguma das peças compradas para a moto serviria, nos permitindo voltar à estrada. Também no café da manhã soubemos de umas “novidades” futuras que nos aguardavam.

E no terceiro dia, em direção à cidade de Termas do Rio Hondo, conheceríamos o “temível” Chaco argentino...

        Gostei da placa na porta da loja de peças eletrônicas: “si usted necessita el ‘cosito del coso’ traiganos de muestra el ‘coso donde vá el cosito””, ahahahahahah (Leleco, eis aí boa dica)


Chicão e sua merecida Zero Álcool


sábado, 9 de março de 2024

Capítulo 02 - Dia 1 (06/02/2024)

          Dando continuidade à aventura cuja descrição iniciou semana passada, eis que vamos para a estrada no início efetivo de nossa viagem até o deserto de Atacama no Chile. A proposta, nesse primeiro dia, seria ir até à cidade gaúcha de São Borja, já na fronteira com a Argentina....

                 * 03:45

              Confesso que fiquei surpreso quando o celular despertou às 03:45h da manhã, ops, da madrugada, do dia 06 de fevereiro, pois como é muito comum com seres humanos normais, eu também sofro com a insônia da ansiedade de expectativa sempre que estou na véspera de uma viagem, uma aventura, um jogo importante... Nesta noite de véspera o sono foi tranquilo e constante, e se não é o despertador, teria queimado a hora combinada para o encontro de saída no posto Chimarrão, 04:30h.

           

     A expectativa e a ansiedade para a saída em uma aventura como a que estávamos iniciando eram grandes. O friozinho na barriga vinha e ia cada vez que o trajeto era refeito na memória, e os quarenta e cinco minutos entre o pular da cama e o sair de casa passaram muito rápidos, sendo realmente o tempo exato para se arrumar, se equipar, conferir o check list de saída e sair com a moto. Às 04:30 o ronco da Bebê já acordou alguns valeverdenses de sono mais leve, kkkk.

                Ah, às 04:15h o parceiro de viagem manda uma mensagem: tu já está te arrumando? Como assim cara pálida? Eu já estou pronto e tirando a moto da garagem, ahahahahah

           *A saída...

Horário marcado para o encontro e bora para a estrada. Se tá com medo, vai com medo mesmo! Está com ansiedade? Ela desaparece já nos primeiros quilômetro rodados... A madrugada de temperatura amena prometia um bom e confortável início de viagem; para mais tarde tínhamos a expectativa, diante da previsão, de calor.

Rodados quatro ou cinco quilômetros e “pisca a alta, liga o alerta e para no acostamento...”. Esqueceu-se a carteira com la plata e os documentos... Volta ao Vale, espera-se, absorve-se um pouco mais a ansiedade e a expectativa e agora sim, bora para a estrada que já estamos atrasados...

 * Primeira perna da viagem

Nossa ideia inicial era ir até São Borja, numa distância aproximada de 470 km; lá chegando veríamos o que fazer. Como saímos cedo, a viagem transcorreu de forma bastante agradável, ao menos até por volta das 10:30h, quando começamos a sentir o calor. Chegamos em São Borja por volta das 11:00h, não muito cansados, e resolvemos ir direto à alfândega e passar para o lado Argentino.

A passagem na alfândega foi tranquila, atendimento simpático dos argentinos, um contraste com os chilenos, documentação em ordem, e começamos a treinar nosso espanhol, na verdade um “portunhol”, que ao longo da viagem foi sendo lapidado e treinado quase à perfeição, já que estávamos sem nosso tradutor/intérprete oficial Diogo Trarbach, kkk. Da alfândega fomos almoçar na cidade argentina de São Tomé, já sob um forte calor que deixava nossas roupas encharcadas. Foi nosso primeiro contato com um dos pratos tradicionais da culinária portenha: o “milanesa”, um bife à milanesa (alguns muito bons, outros nem tanto, kkk) que pode ser de boi, de cerdo (porco), de pollo (frango) ou de pescado (peixe).

Almoçados, resolvemos seguir à diante, pois ainda era cedo da tarde, e escolhemos para nosso primeiro pouso em solo argentino a cidade de Posadas, às margens do rio Paraná, cento e sessenta quilômetros adiante de onde estávamos.

O famoso "milanesa"

Chegamos lá por volta das 17:00, após passarmos muito, mas muito calor, e após sermos surpreendidos por uma intensa chuva, que em determinados momentos se transformava em granizo... Levamos algumas pedradas no lombo, nas mãos, nos braços e um tiroteio no capacete, ahahahahah, mas nada muito sério. Ao menos arrefeceu um pouco o calor.

                 * Posadas

                A cidade de Posadas é enorme. Tem mais de trezentos e sessenta mil habitantes, e é uma cidade turística. Tem uma avenida costeira (Costaneira) que é sensacional. Não podemos esquecer que janeiro e fevereiro são, também para os argentinos, meses de vacaciones (férias). Então o movimento era bastante intenso...

            

Posadas - Argentina

    Precisávamos escolher um hotel em Posadas, mas não tínhamos a menor ideia de por onde começar a procurar... Perdemo-nos numa rotunda (rotatória) e fizemos duas voltas no mesmo lugar, voltando ao local de início, kkk (nosso maps às vezes mais atrapalhava do que ajudava – mas eu acho que nosso navegador se atrapalhava com a pouca visão para enxergar o mapa, ahahahahah).

Foi então que uma van nos “cortou a frente” e um braço nos sinalizou para parar... Desceu um senhor que nos perguntou o que precisávamos... Se identificou como motociclista e se dispôs nos levar até o centro da cidade... Lá chegando, muitos quilômetros depois, nos indicou a rua central e um hotel que recebia motociclistas, Hotel Colon, na rua Colon.

Um destaque deste hotel foi que nos apresentou o café da manhã tradicional dos hotéis argentinos, outro acepipe clássico de los hermanos: a media luna (tipo um croissant). Mas era um café espartano: uma xícara de café, com ou sem leite, e duas medias lunas. E só! Em meia hora a barriga já estava roncando, ahahahahah.

Hotel Colon

Em posadas fomos fazer o câmbio, pois até então só tínhamos reales, que já não era aceito em muitos lugares, e tarjeta (cartão de crédito), que também não era muito aceita. Muitos dos pagamentos na Argentina tem que ser feitos em efectivo (em peso argentino). A relação cambial era de R$1,00 valendo ARS 220,00 (um real valia duzentos e vinte pesos argentinos). Saímos com os bolsos muito cheios de dinheiro...

 

                * O trânsito na Argentina...

                Para nós brasileiros, o trânsito argentino é uma coisa de louco.               A única coisa que os argentinos respeitam no trânsito é a sinaleira. Fora isso, tem-se a impressão de que não existem muitas regras. Se considerarmos os motociclistas, então, aí sim é uma coisa quase surreal: andam na contramão, andam sobre as calçadas, estacionam em qualquer lugar, andam sem capacete, chegam a andar quatro ou cinco pessoas, inclusive crianças, animais e todo tipo de coisa, sobre uma mesma moto (geralmente de pequena cilindrada); as motos são um capítulo à parte: algumas dão a impressão que saíram do ferro velho; vi uma (umas quantas) que ao invés de farol, tinha uma lanterna amarrada sobre o painel, kkkk; outra não tinha tanque de combustível, mas uma bambona de plástico no lugar; uma não tinha banco, mas um pedaço de pneu de carro que o substituía, ahahahah; algumas (muitas) não tinham painel, farol, espelho retrovisor, nada... E essas motos trafegam tanto na cidade quanto nas rodovias, ahahahahahah. Passamos por um motociclista que carregava tantas sacolas e sacos plásticos na moto que só enxergávamos as rodas e os plásticos, mais nada. Não sei como ele enxergava a estrada, ahahahahah. Vimos dois agentes de trânsito atacar dois motociclistas nativos e quase serem atropelados, pois eles não pararam, kkkkk. Realmente foi um experiência emocionante dirigir nas ruas e estradas argentinas...

 

* E se foi o primeiro dia

                E assim foi o primeiro dia de nossa aventura. Muitas novidades, muitas experiências, muitas emoções...

                À noite saímos para um merecido jantar, onde a carne argentina justificou sua fama, sendo o assado de lomo, uma referência em termos de cortes especiais da carne da rês, o melhor que comemos em toda nossa viagem. Uma quilmes auxiliou a relaxar a musculatura para uma excelente noite de sono... Isso depois de passearmos a pé por um calçadão no centro da cidade, que não era calçadão, mas uma rua no mesmo nível e com o mesmo piso da calçada e quase sermos atropelados, ahahahahah. Dois bocabertas atrapalhando o trânsito, ahahahah.

                Ah, o amigo Chico ficou sem sua zero álcool já que na Argentina esse produto é bastante raro. No Chile é mais raro ainda.

                 * Próxima parada Corrientes

         O dia seguinte será dos mais interessantes, até por que começaram os perrengues. Foi também dia de lapidar o espírito do motociclismo. Mas isso vem no capítulo 03...

Ainda no Hotel Colon - Posadas


sexta-feira, 1 de março de 2024

O começo de uma Aventura (assim, com letra maiúscula)

Este ano tive umas férias um pouco diferente.

Juntamente com o amigo Chico Bisneto, aqui do Vale Verde, aventurei-me em uma viagem de 16 dias, 7180 km, de motocicleta pela Argentina e pelo Chile, passando pela região do Chaco argentino, subindo a Cordilheira dos Andes, indo ao Deserto de Atacama, atravessando o deserto até o Oceano Pacífico, descendo a costa pacífica do Chile, retornando pela região vitivinícola da Argentina, atravessando o pampa deste país e retornando ao Brasil por Uruguaiana.

                Foi uma das experiências mais marcantes da minha boa e já meio longa vida.

               A partir de hoje começo a dividir com o amigo leitor um pouco do que vi, do que vivi e com o que convivi nesta viagem impressionante, gratificante e regozijante.

                 

* O começo de tudo

               Uma viagem deste porte não se faz de um dia para outro. 

        Não é só subir na moto e sair estrada à fora. É importante e necessário que se faça um planejamento e uma preparação minimamente “organizada” para que se possa viajar com tranquilidade e segurança e para que se possa aproveitar bem a viagem em si, além de se estar preparado para os perrengues que por ventura surjam (e surgirão), minimizando os efeitos dos incômodos quando ocorrerem.

             No ano de 2023 o amigo motociclista Laércio “Tchy” Toillier, também aqui do Vale, fez esta mesma viagem. Com suas histórias e relatos da aventura lançou a sementinha...

          Claro que uma viagem dessas, que demanda tempo e dinheiro, não está, infelizmente, à disposição de todos, pois que sair quinze ou vinte dias de casa, do trabalho, da família, é algo que impõe muitas limitações. Estou para dizer que o tempo dedicado a uma viagem dessas acaba por torná-la mais proibitiva do que o dinheiro a ser investido nela...


                Assim é que a partir dos relatos apresentados pelo amigo “Tchy” lancei o convite para fazer a mesma viagem em nosso Moto Grupo – Os Filhos da Lenda e o amigo Chico Bisneto se mostrou bastante interessado. Entre dois já dava para viajar de forma “mais tranquila”, apesar de muitos relatos nas redes sociais de motociclistas que fazem esta viagem solo.

                E já tínhamos experiência de viajar juntos, pois em 2023 nos aventuramos com mais alguns colegas pelo Uruguai, numa ótima experiência.

                

* A preparação

                No princípio, no primeiro semestre de 2023 nossa preparação foi bastante superficial: conversas esparsas, assistir alguns vídeos e relatos na Internet, estabelecimento de datas possíveis e prováveis para a saída, na verdade foi o período de real amadurecimento da disposição em viajar.

                No início do segundo semestre de 2023 sim, a viagem foi então decidida e o plano de planejamento foi traçado.

                Intensificaram-se as pesquisas sobre viajantes e seus relatos sobre a viagem que estávamos para fazer, começamos a preparar a lista de material que precisaríamos, começamos a estudar mapas rodoviários das regiões que frequentaríamos, passamos a pesquisar sobre cidades que estariam em nossa rota, seus hotéis, pousadas e campings (a ideia original era também acampar, sempre que possível, para diminuir um pouco os custos de viagem e permitir um contato maior com as pessoas e a natureza das belas regiões que conheceríamos – ideia que depois foi abandonada).

                Os últimos três meses foram, obviamente, os mais intensos na preparação e planejamento.

                Além de tudo que já havíamos feito, passamos a buscar informações sobre o clima e o tempo nas regiões que iríamos, começamos a analisar a questão do câmbio (moedas nacionais que precisaríamos), confecção da documentação obrigatória, como passaporte, identidade atualizada, documento das motos, seguros obrigatórios para as motos (na Argentina é Carta Verde, no Chile se chama SOAPEX), seguro viagem para nós, viajantes, agendamento de revisão para as motos, regularização dos cartões de crédito, aquisição de materiais e produtos que precisaríamos, conforme nosso check list, revisão do equipamento pessoal de viagem (luvas, capacetes, botas, calças e jaquetas), revisão do equipamento tecnológico como celulares, máquinas fotográficas e filmadoras, teste de bagagem nas motos (item dos mais importantes, pois em motocicletas o peso tem que ser bem distribuído, primeiro por uma questão de segurança – não dá para sair “perdendo” bagagem, ahahahahah, depois, para facilitar o equilíbrio, e por fim,  para evitar o desgaste desnecessário do equipamento em uma motocicleta desequilibrada).

                Feito tudo isso, estávamos prontos para viajar.

             Daí era aguardar a última semana, para o “rescaldo” e, no dia marcado, que precisou ser alterado duas vezes (daí a importância de um planejamento, pois tal alteração não interferiu nos planos traçados), partir.

                E assim foi. Às 4:30h do dia 06 de fevereiro saímos em viagem. Mas isso fica para outro momento, no que seria o capítulo dois desta aventura, ahahahahahah.



sexta-feira, 2 de fevereiro de 2024

O Atacama te seduz?

         O deserto de Atacama está localizado na região norte do Chile até a fronteira com o Peru. Com cerca de 1000 km de extensão, é considerado o deserto mais alto do mundo. É também o mais seco. 

Ele te seduz?







 

sexta-feira, 15 de dezembro de 2023

O mesmo do mesmo, sempre!!!

      O governador do estado encaminhou à Assembleia Legislativa um Projeto de Lei – PL que objetiva permitir-lhe aumentar o valor do ICMS aplicado aos produtos e serviços consumidos no Rio Grande do Sul. A alíquota geral de cobrança passaria dos atuais 17 % para 19,5 %. 

       O ICMS - Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Produtos, é, grosso modo, imposto cobrado sobre a venda de produtos e serviços que circulam entre cidades e estados ou de pessoas jurídicas para pessoas físicas, auxiliando os estados a arrecadar dinheiro para financiar os serviços públicos. O valor do ICMS é adicionado ao preço final do produto ou serviço que você compra. A justificativa do governo estadual é de que o aumento se faz necessário para evitar perdas com a divisão de impostos que passará a ser feita pelo governo federal após a aprovação das novas regras da reforma tributária. Muitos estados brasileiros também estão promovendo esse aumento.

Imagem da Internet

         No entanto, existe aqui no Rio Grande uma grande resistência por parte da sociedade e de boa parcela da classe política (de oposição, diga-se) para promover tal aumento, sob a justificativa de que não é momento para aumento de impostos, ou que o aumento puro e simples não resolverá os problemas do estado, ou ainda que aumentar a carga tributária da população sem uma contrapartida no enxugamento da máquina estatal e na melhora da qualidade dos serviços públicos oferecidos não é uma alternativa razoável...

Com a palavra nossos deputados estaduais. 

O que o amigo leitor pensa a respeito?

sexta-feira, 8 de setembro de 2023

Libera ou não libera?

           Julgamento interessante está ocorrendo no órgão máximo da Justiça brasileira: nossos ministros estão com a interessante pauta, pois que devem determinar, ou não, a descriminalização da posse (e consumo) da maconha.

A discussão é antiga e ambos os lados contendores, os que são à favor da descriminação e os que são contra, possuem argumentos favoráveis a si e contrários ao adversário. Em muitos países tal definição, tanto para um lado quanto para outro, já ocorreu.

Um dos fatores a serem abordados nesse julgamento, necessário, diga-se, é o que pretende determinar, objetivamente, a diferença entre consumidor e traficante. Para essa definição nossos magistrados deverão se posicionar e determinar, também de forma objetiva, qual a quantidade da erva que o consumidor poderá portar sem que seja enquadrado, então, como agente do tráfico. Até tantos (com “o”, e não tantas, com “a”) gramas caracteriza a posse para consumo; passou disso é tráfico.

Se houver a descriminação, então o consumo da cannabis deverá observar as mesmas regras aplicadas a outras drogas psicoativas lícitas como o álcool, por exemplo: ninguém pode beber e dirigir, assim como também ninguém poderá fumar “unzinho” e dirigir. Isso também vale para alguns medicamentos (remédio é droga, sabia?), pois basta uma breve lida na bula para ver que é desaconselhável, entre outras coisas, conduzir veículos automotores após fazer uso deles. Daí que se o indivíduo for pego no carro portando uma quantidade de maconha e essa quantidade estiver no limite determinado pelo STF como “para consumo pessoal”, mas ele não tiver fumado, nada vai acontecer; como é o caso do sujeito que for pego com latas de cerveja no veículo, mas não tiver bebido.

Se não houver a descriminação, então, independentemente da quantidade de marijuana que o elemento esteja carregando, ele cometerá infração penal. Mas o que vai diferenciar se ele é consumidor ou traficante, e qual será o tamanho da pena a ser-lhe aplicada, pois a pena do consumidor é menor que a do traficante, será a quantidade estabelecida pelo STF.

Aí o amigo leitor, aquele que gosta da dialética, da análise e da crítica (sempre bem vindas, claro) ao que escrevo vai me perguntar: mas Breno tu é a favor ou contra a descriminação da maconha? (Aposto um cafezinho como ele vai perguntar, ahahahahah).

Ora, se a descriminação for acompanhada de um regramento de produção, comercialização e consumo do produto, eu sou a favor sim.

Meu argumento inicial, sem hipocrisia: se o indivíduo pode chegar num bar e tomar umas pinga, uma cerva, um vinho e sair “mais relaxado”, “meio alegre”, “mais de boas” (alguns até saem tropeçando e caindo) por que ele não pode fumar um fino e “fazer a cabeça” da mesma forma? Hein? Hã?

              O assunto é polêmico, vale a reflexão e não se esgota!