Dando continuidade à aventura de
dois veteranos motociclistas, saímos da cidade de Posadas, como eu disse, uma
bela cidade, e partimos em direção à Corrientes, agora sim, mais no interiorzão
da Argentina, porém ainda às margens do enorme e belo rio Paraná.Bora que está perto...
Sobre
o rio Paraná é interessante destacar que em alguns pontos ele é tão largo que
mal-e-mal se enxerga o outro lado.
Na
cidade de Posadas, que estivemos no dia anterior, havia uma ponte, Ponte
Internacional, que levava para o outro lado do Rio Paraná, saindo diretamente
no país vizinho do Paraguai.
*
Problemas só existem quando têm que acontecer
Logo na saída
de Posadas minha Bebê (nome de batismo de minha motocicleta, kkk), começou a
sinalizar um antigo defeito eletrônico que eu julgava superado...
Bebê pronta para a viagem
O
pezinho de descanso da moto, tecnicamente conhecido como “sensor indutivo”, há
alguns meses atrás, após eu viajar na chuva para um encontro de motociclistas
em Cerro Branco - RS, andou apresentando um problema. Passados alguns dias
daquela viagem, nunca mais acusou tal situação, mesmo eu tendo viajado na chuva
em outras oportunidades. Daí que julguei ter sido um problema apenas pontual; e
nunca mais me preocupei com ele, que nem era detectado nas revisões eletrônicas
que eu fazia na moto.
Esse sensor
evita que a moto ande com o pezinho de descanso baixado, sendo um elemento de
segurança. O problema é que quando ele acusa o problema e aparece a mensagem “Side
Stand” – descanso lateral, a gente engata uma marcha na moto e imediatamente o
motor desliga. Com isso, mesmo com o pezinho “recolhido”, não se consegue fazer
a motocicleta andar.
Pois bem, estávamos no dirigindo à cidade de Corrientes pela RN – Ruta Nacional 12, no meio de uma das (muitas) retas daquele trecho da rodovia Argentina, há mais de cem quilômetros de lugar nenhum, e a Bebê começou a acusar o problema, obviamente que causado pela chuvarada do dia anterior.
A "solução" do problema, kkk |
Durante
mais de hora viajei com o painel piscando a mensagem “side stand”. Num
determinado momento, quando um calor absurdo de um sol impiedoso, beirando os
quarenta graus célsius, nos obrigou a parar para descansar, se hidratar e
pormos uma roupa mais leve, precisei desligar a moto. Após o descanso, não
consegui mais fazer a moto andar, pois com o problema, engatava a primeira
marcha e o motor desligava. Tentei fazer a moto andar uma dezena de vezes e nada!
O jeito foi começar a fuçar...
*
O espírito da estrada
Enquanto
estávamos parados fuçando na Bebê, já sem camisa e quase sem água, pois o calor
era grande, escuta-se um “estrondo” na rodovia e imediatamente encosta, bem
próximo a nós, um motor home - trailer que acabara de estourar um pneu.
Os
ocupantes do motor home, instalado na plataforma de um Ford 56 a gasolina, era
um casal argentino que estava voltando de uma viagem de nove meses pela costa
brasileira, e chegariam em sua cidade, Buenos Aires, dentro de mais quinze
dias.
De
pronto o motorista, antes mesmo de ver e resolver o seu problema, o pneu
estourado, se ofereceu para nos ajudar, mesmo não conhecendo muito de moto,
como ele mesmo disse. Sua esposa, muito solícita, ofereceu-nos refrigerante e
água geladas.
Mais
de hora depois, nós ainda sem conseguir fazer a Bebê andar, os argentinos já
com o pneu trocado e banho tomado (eles tinham chuveiro no motor home, além de
uma pequena borracharia e oficina mecânica, com gerador de energia, caixa
d’água, ar-condicionado, geladeira com
freezer, etc), nos despedimos, após efusivas trocas de votos de boa sorte e
bons augúrios. Àquelas alturas já pensávamos em chamar um guincho (tarefa que
caberia ao Chico procurar – ou não) para levar a moto até Corrientes, distante
uns cento e setenta quilômetros adiante.
Mais uma meia
hora depois e, por uma dessas razões que não se sabe explicar muito bem, ou por
que àquelas alturas o motor da moto tenha esfriado um pouco, em uma tentativa
de engatar uma marcha na moto ela “aceitou” a primeira... Com isso, mesmo ainda
apresentando a mensagem de problema, estávamos temporariamente em condições de
rodar...
Com enorme e
emocionante alegria, pois já estávamos há quase duas horas ali na estrada,
parados, sem água, derretendo, sem saber exatamente o que fazer (já tínhamos
consultado soluções e alternativas na internet, mas todas indicavam a
necessidade de dispositivos eletrônicos, o que não tínhamos na hora – agora
carrego cinco deles com as ferramentas da moto, ahahahah) nos vestimos e bora
motoquear. Nunca me vesti tão rápido na vida, ahahahahah. Como saí com pressa,
feito um louco, pois tinha medo de a moto apagar ao fazer alguma marcha, saí na
frente do Chico, alucinado... Em breve ele me alcançaria e passaríamos a rodar
em nossa velocidade regular de cruzeiro que era 90-100 km/h. Dono de Harley tem que ter graxa nas unhas, ahahahahahah
Chegamos
em Corrientes por volta das 15:30 e um dilúvio inundara aquela parte da cidade,
de novo. Mas agora eu sabia que não poderia desligar a moto...
*
Corrientes
Chegamos
em Corrrientes encharcados, desidratados, com fome, cansados física e
emocionalmente, mas fomos buscar uma mecânica para moto. Após rodar feito uns
tontos perdidos, sem poder desligar a moto, fazendo umas pataquadas como andar
na contramão e sobre a calçada, kkk, encontramos a única que nos indicaram, mas
que abriria apenas após às dezessete horas, pois naquele momento estava no
horário da siesta (hábito dos
hermanos de descansar – sestiar após
o almoço). Resolvemos ir direto para o hotel que escolhemos nesta cidade.
Corrientes
A
cidade de Corrientes é grande, tendo em torno de trezentos e vinte mil
habitantes, e antiga, pois foi fundada no final do século XVI. O hotel que
escolhemos ficava no centro, mas dentro de uma praça, então, como não sabíamos
como chegar, de moto, até a portaria do hotel (que barbarbaridade), e como eu
não poderia desligar a moto, fomos para o plano B, onde ficamos: hotel
Identidade era o nome, também bem no centro, quase ao lado da referida praça.
*
Rotina
Antes
mesmo do check in no hotel fomos comprar água, pois a desidratação é um dos
riscos que se corre ao viajarmos de moto no verão.
Instalados no hotel, banho tomado, roupas e acessórios pendurados para secar (pelo segundo dia seguido pegávamos chuva na estrada) e vamos para dois compromissos: fazer o câmbio, de novo, e procurar um capacitor eletrônico que era indicado na internet para contornar o problema de minha motocicleta.
Hotel Identidade |
À noite, como
de costume, fomos a uma parrijada ou parrilhada, afinal, estamos na Argentina,
e suas carnes dispensam comentários. Sem falar que o câmbio favorecia-nos na
hora do brique, ahahahahahah.
Após o jantar
chamamos um táxi e fizemos um tour pela bela avenida Costaneira da cidade.
Quase uma hora de passeio, com um amigo nosso já meio cochilando ao lado do
motorista, e voltamos para o hotel. Preço da corrida do táxi: vinte pilas...
Justa e merecida janta em Corrientes
* Alguns
destaques pontuais desta etapa
Não achei a peça exata para consertar minha moto. Porém, o atendente da loja de eletrônicos, muito solícito, deixou até eu usar o computador da loja para procurar peças semelhantes pela internet. Como não conseguimos, ele me forneceu, a preço de custo, cinco capacitores que poderiam, ou não, substituir o que eu precisava e me desejou muita sorte, kkk. Fiquei muito grato pela atenção recebida.
Comprando a peça salvadora... |
Os preços na
Argentina são bastante em conta se comparados com os do Brasil. Refeições,
souvenires, bebidas, roupas, tudo muito em conta. Mas tem-se que ter cuidado
com o câmbio, pois existem os espertinhos que querem ganhar dinheiro fácil à
custa de desavisados: compramos pesos a 220 por real, mas teve quem nos
ofereceu a 190, 180 e até 170... Pensaram que eu não era bobo...
* E se foi o
segundo dia
À noite, após
um dia bastante intenso, mesmo apesar do pecado da gula no jantar, o sono veio
fácil e foi reparador. Pela manhã já estávamos ávidos por ver se alguma das
peças compradas para a moto serviria, nos permitindo voltar à estrada. Também
no café da manhã soubemos de umas “novidades” futuras que nos aguardavam.
E no terceiro
dia, em direção à cidade de Termas do Rio Hondo, conheceríamos o “temível”
Chaco argentino...
Gostei da placa na porta da loja de peças eletrônicas: “si usted necessita el ‘cosito del coso’ traiganos de muestra el ‘coso donde vá el cosito””, ahahahahahah (Leleco, eis aí boa dica)
Chicão e sua merecida Zero Álcool |